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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

TRAVESSIA DO (F)RIO TEJO

Foi no fim de semana mais gelado de que há memória que se realizou a Travessia de Inverno. Apesar disso, o sol brilhou todo o dia e o pouco vento que se sentiu (e como se sentiu!!) era a nosso favor.



Mais uma vez, organização impecável do João Simões ao serviço da sua KFP.

Às 09:00 começaram os comensais a chegar a Santarém. Deram-se os cumprimentos do costume á trupe que mais habitualmente se encontra por estas lides. Vestiu-se o equipamento: muito têxtil, que o grizo não estava para brincadeiras; muita tecnologia, que afinal estamos no séc XXI (digo: vinte e um) e canoísta que se preze tem pelo menos um telemóvel all-weather e uma go-pro (com os respectivos acessórios de fixação na tola, na pagaia e no casco), ou, pelo menos, uma olympus aparafusada a uma ventosa (eu).

Enquanto alguns comensais retardatários (bandidos, não deviam ter fome de rio!!) pingavam, fomos estacionar as viaturas no local do resgate: Escaroupim. Uma bela localidade á beira Tejo, cuja oportunidade de outra visita não será, decerto, desperdiçada.

De regresso ao ponto de partida, juntámo-nos umas três dezenas: nada mau! Entramos, então, dentro do Tejo - ou em cima dele, depende do ponto de vista. Já era meio dia. Um grupo cheio de energia, rumou Tejo abaixo. Não sei se terá sido a necessidade de aquecer, se o entusiamo, se a corrente, se o vento, mas os primeiros cinco quilómetros fizeram-se em quarenta e cinco minutos. Pouco depois da uma da tarde já se comia uma bucha fria (se bem que ainda estava quentinho o chá que fervi às 07:00 antes de sair). Parados, o vento gelado que deslizava sobre o leito do Tejo estava a tornar-se dificil de suportar. Foi então que o surpreendente (poderei acrescentar mítico? lendário?) Luis Carneiro regressou da bruma com lenha (imagine-se recolher lenha seca nas margens do Tejo em Fevereiro!!) e extraiu do Stalk um engenho com o qual fez fogo. Maravilhosa invenção, o fogo. Utilizando um adjectivo muito na moda: “colossal” foi a fogueira que nos aqueceu. Em vez de pura e simplesmente glaciar, o vento passou a trazer rajadas que oscilavam entre o gelado e o morninho. Curiosamente, alguém se deve ter lembrado de abrir alguma barragem a montante o que provocou um curioso efeito de maré a subir. Quer isto dizer que a nossa colossal fogueira foi engolida pela ascendente do caudal do Tejo. Só pode ter sido obra da troika! Sem fogo para nos aquecer e já de barriga cheia - e forças retemperadas - retomámos a nossa odisseia Tejo abaixo.

Esta região possui grandes explorações agricolas como nos desabituámos de ver e aqui estão localizadas algumas das mais emblemáticas. Foi muito interessante contrastar a visão aérea que o reconhecimento prévio via Google Earth proporcionou, com a visão que se tem através do atravessamento em automóvel e, por sua vez, com a perspectiva única que se tem a partir de dentro do Tejo. Do interior do leito avistam-se também casarões abandonados que lembram outros tempos, outras vidas, famílias e clãs organizados em torno da actividade agricola - ali, tão perto da capital. Avistamos habitações com cais dedicado e com traços arquitectónicos inqualificáveis mas que não deixam de ser peculiares e que nos fazem reflectir sobre o que terão sido e serão actualmente as vidas das pessoas que ali habitam. Talvez logo ali a cem metros da margem haja um hipermercado, um aglomerado urbano denso com salão de bowling e um acesso a autoestrada, mas a perspectiva que, de dentro, o Tejo dá, remete para esses pensamentos porventura mais rústicos. Também avistamos umas toneladas de sucata que, não fora o descanso dominical, se encontrariam em intensa azáfama a rapar milhares de toneladas de areia do fundo do Tejo: cá mais para baixo (entenda-se: jusante), ele, de facto, é mais fundo. Quantos grãozinhos de Tejo não andarão espalhados por esse país ou mesmo nas paredes das nossas casas?

Superada a disposição mais meditabunda que a paisagem sugere, aproximamo-nos de Escaroupim e passamos sob as pontes Rainha Dª Amélia - a velha, concluida em 1904 e a nova, que entrou ao serviço em 2001.



Para os mais curiosos, sugiro a leitura deste breve e muito interessante artigo da Wikipédia sobre as pontes. Recordando a passagem sob estas estruturas, entrego duas medalhas pelo esforço ao Miguel e ao Pedro (peço desculpa se estou equivocado nos nomes!!!), dois muito jovens e corajosos entusiastas destas travessias.

Um par de quilómetros a ajusante passamos por Valada, uma localidade da qual o Tejo oferece uma bonita imagem, com a sua marina. Sim, marina, com barcos a sério, ancoradouro e um barzinho em madeira a convidar para uma bejecas e uns tremoços!

Atravessamos para a margem esquerda, cruzamo-nos com uma embarcação à pesca, e estamos em Escaroupim.

Para o grupo, após arrumar o material seguiu-se uma jantarada e preparar a nova a jornada de Domingo; para mim, regressei à Figueira saciado com os ingredientes habituais: convívio, passeio, descoberta, natureza, kayak.

Queria deixar uma nota final para um equipamento que utilizei e que me surpreendeu pela positiva, depois de uma hesitação inicial. Trata-se deste suporte para câmara com ventosa. Como dizia a senhora do Lipo Shaper: fiquei maravilhado! Tinha ficado inicialmente desiludido com a ferramenta pois, como teste, deixei-o uma noite aplicado no kayak e de manhã estava no chão. Culpei a curvatura do kayak (ainda por cima tinha sal....), mas também culpei a ventosa: não presta. Afinal dei-lhe uma segunda oportunidade. Desengordurei com enzimas salivares (lambidela) ambas as superfícies, sequei e fixei calmamente a ventosa. Apliquei a câmara na rosca. Aguentou-se com bravura! Recomendo a todas as minhas amigas. IIuupiiii!!!

Até à próxima!

(para ouvir com a música lindíssima da Luisa Sobral)